terça-feira, 16 de abril de 2013

Inquietações






Eu sei exatamente o que eu preciso fazer. Eu sei exatamente o que eu preciso fazer.

A porta da minha casa tem um formato diferente. O latido do meu cachorro tem um som diferente. Eu mesma tenho um cheiro diferente, uma forma diferente, outra cor.

Você sabe que tem alguma coisa errada quando começa a ouvir tambores vindos sei lá, do além. Tambores. Tambores dentro de você. Você já ouviu tambores dentro de você? Eles fazem um barulho danado. De repente, falta a respiração, falta o chão, falta falta falta tanta coisa...

Mas será que eu tô ficando louca? Louca.

“adj. Diz-se daquele que perdeu a razão; alienado, doido, maluco.
Insensato, temerário, estróina.
Furioso, alucinado.
Fig. Perturbado, dominado por violenta emoção: ficou louco de alegria.
Intenso, vivo, violento: amor louco.
Absurdo, contrário à razão: projeto louco”.

Não. Eu não tô louca. E isso é tão clichê, não é mesmo? Enlouquecer. Ai, eu surteeeeii. Porra nenhuma. Não existe esse papo de enlouquecer. Existe que de alguma maneira, em algum determinado tempo da sua vida, você passa a ver, perceber e sentir coisas que talvez as outras pessoas não compreendam.

Tipo eu. Eu entendo perfeitamente os suicidas. Ai, suicidas, meu Deus! Cal-ma. Os suicidas são tão humanos quanto eu ou você. Na verdade, acho que até mais humanos que eu ou você. Porque eles ousaram. Ousaram sentir mais do que eu ou você. Sentiram tão fundo e tão profundo que não aguentaram. E não estou dizendo que devemos ser suicidas para nos afirmarmos dentro de algum “movimento”. As pessoas tem essa mania besta de tentar analisar as entrelinhas do que nós dizemos. Esquece esse papo de entrelinhas, cara. Pra que entrelinhas? Falo o que tenho que falar sem dó e nem piedade. Nunca tiveram isso comigo. Dó e piedade. Ridículo isso.

Você sabe o que tem que fazer. Eu sei o que eu tenho que fazer. Mas cadê a coragem? Covarde. Covarde.

Teve um tempo em que eu sabia exatamente aonde eu queria estar. Eu sabia exatamente quem eu queria que estivesse do meu lado em determinados momentos da minha vida, sabia como eu queria me vestir, que tom de voz eu queria ter, que lugares eu queria frequentar e que comidas eu queria degustar. 

Mas isso foi antes desses tambores. Esses mesmos, que me dão palpitação, que me tomam o ar, esse aperto no peito que não me deixam mais ficar onde eu estava. Eu não consigo mais ficar onde eu estava.

Eu vi. Eu vi e eu vivi uma coisa maravilhosa. E você deve estar querendo saber que coisa tão maravilhosa é essa mas eu não posso falar. Eu não posso falar porque quando você vê uma coisa assim, dessas coisas libertadoras, você faz um acordo com o universo de nunca contá-la pra ninguém. Porque isso vai do processo de vida de cada um. O que eu vi e me tocou, não é o que você viu e te tocou e nem vai ser o que o outro vai ver quando for tocado. No momento certo você vai se dar conta de que alguma coisa aconteceu e vai se perguntar se isso foi bom ou ruim e se era mesmo necessário que tudo isso acontecesse e talvez não se tenha mais como voltar atrás porque as coisas acontecem a gente querendo ou não.

E mais uma vez me vem a falta de ar. A inquietação. A vontade de rasgar a minha pele para que as coisas que eu sinto mas não decifro escorram pelas minhas veias. Uma pessoa deveria ser capaz de compreender seus pensamentos. Uma pessoa deveria ser capaz de compreender seus sentimentos.

 E eu volto ao mesmo ponto que eu estava minutos atrás, cansada, tentando entender e descrever uma coisa que não tem como ser entendida ou descrita, tentando amenizar uma coisa que não tem como ser amenizada porque tudo faz parte de um processo criativo de uma coisa fictícia ou verídica dependendo do grau de maturidade e recepção de cada um, uma coisa que todos nós temos que passar, com essa incerteza mesmo de se no final das contas vai dar tudo certo.

Tô sem fôlego. Sem forças. Sem criatividade pra descrever o que está acontecendo comigo, tentando achar uma razão lógica e racional pra não querer mais tudo que eu queria há meses atrás, tentando não fazer com as pessoas o que muito já foi feito comigo... mas sabendo que esse processo me anula completamente enquanto pessoa que sente, que vê e que decide sobre que caminhos percorrer.

Viver depois de sentir os tambores é tarefa difícil e árdua. Se é isso que a vida quer de mim, eu tô pronta. Tô pronta pra tentar, tô pronta pra sentir. Estou pronta pra viver e pra morrer pelo que eu acredito. 

Não tem graça viver nas anulações da vida, né?



Amanda Gedeon.